quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Não sei quantas almas tenho...

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: Fui eu?
Deus sabe, porque o escreveu.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Glósóli



Glósóli
Nú vaknar þú
Allt virðist vera breytt
Eg gægist út
En er svo ekki neitt
Ur-skóna finn svo
A náttfötum hún
I draumi fann svo
Eg hékk á koðnun?
Með sólinni er hún
Og er hún, inni hér
En hvar ert þú....
Legg upp í göngu
Og tölti götuna
Sé ekk(ert) út
Og nota stjörnurnar
Sit(ur) endalaust hún
Og klifrar svo út.
Glósóli-leg hún
Komdu út
Mig vaknar draum-haf
Mitt hjartað, slá
Ufið hár.
Sturlun við fjar-óð
Sem skyldu-skrá.
Og hér ert þú...
Fannst mér.....
Og hér ert þú
Glósóli.....
Og hér ert þú
Glósóli.....
Og hér ert þú
Glósóli.....
Og hér ert þú


Sol resplandecente
Agora que estou desperto
tudo me parece distinto
Olho ao meu redor
e não encontro nada
Ao calçar os sapatos dou-me conta
de que ela ainda traz o pijama vestido
encontrado num sonho
pendurado sobre (um) anti-climax
Ela está com o sol
E ali está
Mas tu, onde estas tu….
Começa a tua viagem
deambula nas ruas
Se não encontras a saída
faz-te guiar pelas estrelas
Ela estará sempre lá
e aparecerá de repente
Ela é o sol resplandecente
Saíamos então
Acordei de um pesadelo
O meu coração bate
descontroladamente…
Fui-me habituando tanto a esta confusão
Que agora é compulsivo
E aqui está
Sinto-o
E aqui está
sol resplandecente...
E aqui está
sol resplandecente…
E aqui está
sol resplandecente…
E aqui está…

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Uma fabula


Um gato adulto viu um gatinho a correr atrás da sua própria cauda e perguntou:

- Porque razão andas a correr atrás da tua própria cauda?

Disse o gatinho:

- Aprendi que o melhor que pode acontecer a um gato é a felicidade, e que a felicidade é a minha cauda. Por isso ando atrás dela, e quando a apanhar serei feliz.

Disse o gato velho:

- Meu filho, também eu prestei atenção aos problemas do universo. Também eu julgava que a felicidade estava na minha cauda. Porém, reparei que sempre que ando atrás dela, esta foge de mim, e quando vou à minha vida, ela parece seguir-me para onde quer que eu vá.



xX A mesma fabula numa versão Alentejana... Xx


Diz um gato para outro más pequenitô:

- Oh gato dum cabrão.. porqué candas a correr atrás da tua própria cauda?

E respondendo o gato más pequenitô:

- Ora, atã na é que aprendi que o melhor que pode acontecer à genti é a felicidadê, e a felicidade é a cauda da genti, por isso ando fêito parvo a correr atrás dela, na éi?

E nisto diz o gato velho:

- Oh porra!!!! Também eu pensava isso... Maaaaas, reparei que sempre que corro atrás dela ná consigo apanhar, e quando vou à minha vida, ela persegue-me onde quer que eu vá... Tá lá isso? Gato dum cabrão, têm maizé juizô!

Gargulas e Quimeras

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Gárgulas Nas Árvores

A luz, dos postes de iluminação das ruas
Passa por entre as parcas folhas das árvores nuas
Numa noite sem lua
e eu vejo
Gárgulas Nas Árvores.

No céu, as nuvens correm, apressadas
Como se até elas, assustadas
Soubessem o que vejo agora
Gárgulas Nas Árvores.

O vento sopra, assobia
Uma infernal melodia.
Sopra, assobia, avisa: não olhe pra cima.

Súbito, - um clarão
Relâmpagos na escuridão.
E o vento dança macabra as folhas do chão.

Gárgulas - mitológicas figuras grotescas de pedra
Onde nelas o Mal se integra
E, entreparadas nos galhos retorcidos das árvores,
Dessas simiescas e sinistras criaturas feitas de mármore,
Estão silenciosamente a esperar
O momento certo para atacar e matar,
A vítima certa que por debaixo delas passar.


Poema de: Fernando Romano Menezes

In a spaceship...

... out of here.

Tic tac tic tac...

Fnord

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Só mesmo um camelo...

... pra beber dessa merda

E o tio Sam vai lucrando e rindo...




Ok. Já chega!!! Já estou farta de ver palhaços na tv só a falarem mal das bebidas alcoólicas, nomeadamente do vinho. Mencionam estudos de merda onde só dizem mal das bebidas alcoólicas, é irónico que se esqueçam de mencionar os outros estudos que falam das virtudes de tais bebidas. Por exemplo, a cerveja é rica em antioxidantes e malte, o vinho tinto em taninos e também em antioxidantes, ambas possuem elementos anti-cancerígenos, estas bebidas tomadas com moderação são benéficas para a saúde. Claro que tomadas em excesso tornam-se prejudiciais, mas qualquer tipo de alimento, bebida ou substancia usada em excesso é prejudicial! Por isso não vejo qual é o raio do problema!

Não ouço ninguém falar mal de coca-colas, pepsis e outros cocktails químicos! Esses refrigerantes e sumos cheios de açúcar, toxinas e neurotoxicos! Essas bebidas são autênticas bombas, autênticos atentados à saúde! Mas dessa merda já ninguém fala!!!

Vamos antes por o pessoal a falar mal do vinho, vamos acabar com as vinhas, destruir completamente a cultura vinícola nacional, vamos inventar que o vinho é muito mau e convence-los que beber coca-colas e redbullls é “bué” da fixe e assim ganhar muito dinheiro vendendo os nossos venenos e aumentando o nosso império

Vinho é CULTURA!

Coca-cola é VENENO!

Prefira o produto nacional!

Diga NÃO aos venenos americanos!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Alegoria da Caverna


Platão, República, Livro VII, 514a-517c

"Depois disto – prossegui eu – imagina a nossa natureza, relativamente à educação ou à sua falta, de acordo com a seguinte experiência. Suponhamos uns homens numa habitação subterrânea em forma de caverna, com uma entrada aberta para a luz, que se estende a todo o comprimento dessa gruta. Estão lá dentro desde a infância, algemados de pernas e pescoços, de tal maneira que só lhes é dado permanecer no mesmo lugar e olhar em frente; são incapazes de voltar a cabeça, por causa dos grilhões; serve-lhes de iluminação um fogo que se queima ao longe, numa eminência, por detrás deles; entre a fogueira e os prisioneiros há um caminho ascendente, ao longo do qual se construiu um pequeno muro, no género dos tapumes que os homens dos "robertos" colocam diante do público, para mostrarem as suas habilidades por cima deles.

– Estou a ver – disse ele.

– Visiona também ao longo deste muro, homens que transportam toda a espécie de objectos, que o ultrapassam: estatuetas de homens e de animais, de pedra e de madeira, de toda a espécie de lavor; como é natural, dos que os transportam, uns falam, outros seguem calados.

– Estranho quadro e estranhos prisioneiros são esses de que tu falas – observou ele.

– Semelhantes a nós – continuei -. Em primeiro lugar, pensas que, nestas condições, eles tenham visto, de si mesmo e dos outros, algo mais que as sombras projectadas pelo fogo na parede oposta da caverna?

– Como não – respondeu ele –, se são forçados a manter a cabeça imóvel toda a vida?

– E os objectos transportados? Não se passa o mesmo com eles ?

– Sem dúvida.

– Então, se eles fossem capazes de conversar uns com os outros, não te parece que eles julgariam estar a nomear objectos reais, quando designavam o que viam?

– É forçoso.

– E se a prisão tivesse também um eco na parede do fundo? Quando algum dos transeuntes falasse, não te parece que eles não julgariam outra coisa, senão que era a voz da sombra que passava?

– Por Zeus, que sim!

– De qualquer modo – afirmei – pessoas nessas condições não pensavam que a realidade fosse senão a sombra dos objectos.

– É absolutamente forçoso – disse ele.

– Considera pois – continuei – o que aconteceria se eles fossem soltos das cadeias e curados da sua ignorância, a ver se, regressados à sua natureza, as coisas se passavam deste modo. Logo que alguém soltasse um deles, e o forçasse a endireitar-se de repente, a voltar o pescoço, a andar e a olhar para a luz, ao fazer tudo isso, sentiria dor, e o deslumbramento impedi-lo-ia de fixar os objectos cujas sombras via outrora. Que julgas tu que ele diria, se alguém lhe afirmasse que até então ele só vira coisas vãs, ao passo que agora estava mais perto da realidade e via de verdade, voltado para objectos mais reais? E se ainda, mostrando-lhe cada um desses objectos que passavam, o forçassem com perguntas a dizer o que era? Não te parece que ele se veria em dificuldades e suporia que os objectos vistos outrora eram mais reais do que os que agora lhe mostravam?

– Muito mais – afirmou.

– Portanto, se alguém o forçasse a olhar para a própria luz, doer-lhe-iam os olhos e voltar-se-ia, para buscar refúgio junto dos objectos para os quais podia olhar, e julgaria ainda que estes eram na verdade mais nítidos do que os que lhe mostravam?

– Seria assim – disse ele.

– E se o arrancassem dali à força e o fizessem subir o caminho rude e íngreme, e não o deixassem fugir antes de o arrastarem até à luz do Sol, não seria natural que ele se doesse e agastasse, por ser assim arrastado, e, depois de chegar à luz, com os olhos deslumbrados, nem sequer pudesse ver nada daquilo que agora dizemos serem os verdadeiros objectos?

– Não poderia, de facto, pelo menos de repente.

– Precisava de se habituar, julgo eu, se quisesse ver o mundo superior. Em primeiro lugar, olharia mais facilmente para as sombras, depois disso, para as imagens dos homens e dos outros objectos, reflectidas na água, e, por último, para os próprios objectos. A partir de então, seria capaz de contemplar o que há no céu, e o próprio céu, durante a noite, olhando para a luz das estrelas e da Lua, mais facilmente do que se fosse o Sol e o seu brilho de dia.

– Pois não!

– Finalmente, julgo eu, seria capaz de olhar para o Sol e de o contemplar, não já a sua imagem na água ou em qualquer sítio, mas a ele mesmo, no seu lugar.

– Necessariamente.

– Depois já compreenderia, acerca do Sol, que é ele que causa as estações e os anos e que tudo dirige no mundo visível, e que é o responsável por tudo aquilo de que eles viam um arremedo.

– É evidente que depois chegaria a essas conclusões.

– E então? Quando ele se lembrasse da sua primitiva habitação, e do saber que lá possuía, dos seus companheiros de prisão desse tempo, não crês que ele se regozijaria com a mudança e deploraria os outros?

– Com certeza.

– E as honras e elogios, se alguns tinham então entre si, ou prémios para o que distinguisse com mais agudeza os objectos que passavam e se lembrasse melhor quais os que costumavam passar em primeiro lugar e quais em último, ou os que seguiam juntos, e àquele que dentre eles fosse mais hábil em predizer o que ia acontecer – parece-te que ele teria saudades ou inveja das honrarias e poder que havia entre eles, ou que experimentaria os mesmos sentimentos que em Homero, e seria seu intenso desejo "servir junto de um homem pobre, como servo da gleba", e antes sofrer tudo do que regressar àquelas ilusões e viver daquele modo?

– Suponho que seria assim – respondeu – que ele sofreria tudo, de preferência a viver daquela maneira.

– Imagina ainda o seguinte – prossegui eu -. Se um homem nessas condições descesse de novo para o seu antigo posto, não teria os olhos cheios de trevas, ao regressar subitamente da luz do Sol?

– Com certeza.

– E se lhe fosse necessário julgar daquelas sombras em competição com os que tinham estado sempre prisioneiros, no período em que ainda estava ofuscado, antes de adaptar a vista – e o tempo de se habituar não seria pouco – acaso não causaria o riso, e não diriam dele que, por ter subido ao mundo superior, estragara a vista, e que não valia a pena tentar a ascensão ? E a quem tentasse soltá-los e conduzi-los até cima, se pudessem agarrá-lo e matá-lo, não o matariam ?

– Matariam, sem dúvida – confirmou ele.

– Meu caro Gláucon, este quadro – prossegui eu – deve agora aplicar-se a tudo quanto dissemos anteriormente, comparando o mundo visível através dos olhos à caverna da prisão, e a luz da fogueira que lá existia à força do Sol. Quanto à subida ao mundo superior e à visão do que lá se encontra, se a tomares como a ascensão da alma ao mundo inteligível, não iludirás a minha expectativa, já que é teu desejo conhecê-la. O Deus sabe se ela é verdadeira. Pois, segundo entendo, no limite do cognoscível é que se avista, a custo, a ideia do Bem; e, uma vez avistada, compreende-se que ela é para todos a causa de quanto há de justo e belo; que, no mundo visível, foi ela que criou a luz, da qual é senhora; e que, no mundo inteligível, é ela a senhora da verdade e da inteligência, e que é preciso vê-la para se ser sensato na vida particular e pública."